"Eu finjo ser uma adolescente gorda e saudável. Eles fingem serem meus pais. Está tudo bem."
Lia está doente e sua obsessão pela magreza a deixa cada vez mais confusa entre a realidade e a mentira. Ela e a Cassie são melhores amigas desde a infância e juntas através de uma aposta sobre quem conseguiria ficar mais magra, elas entram no mundo dos transtornos alimentares, uma com bulimia e outra com anorexia.
Em determinado ponto na historia elas brigam, e por isso Lia ignora as chamadas da Cassie quando ela liga 33 vezes em seu celular, descobrindo algumas horas mais tarde que a “amiga” foi encontrada morta, e que as ligações foram a unica tentativa de contato de Cassie.
Mesmo sentindo o peso da culpa e a pressão de sua família, ela nega cada vez mais que está doente e se afunda em um caminho quase sem volta.
O que começou como uma aposta entre duas amigas tornou-se o maior pesadelo de duas adolescentes reféns de seus próprios corpos.
"…ela ligou.
trinta e três vezes.
você não atendeu.
corpo encontrado em um quarto de motel, sozinho.
você a deixou sozinha.
deveria deveria deveria ter feito algumaqualquercoisa.
você a matou."
trinta e três vezes.
você não atendeu.
corpo encontrado em um quarto de motel, sozinho.
você a deixou sozinha.
deveria deveria deveria ter feito algumaqualquercoisa.
você a matou."
Lia mora com seu pai (um renomado escritor) e sua madrasta, Jennifer, que tem uma filha, Emma, que Lia ama muito e tenta ser um bom exemplo para ela. Ela foi morar com seu pai após ficar internada em uma clínica para voltar a ter um peso “saudável” (48) e sair da “perigolândia” (38,5), já que achava que na casa de sua mãe (uma cardiologista que vive ocupada, salvando a vida dos outros) ela não melhoraria.
Todas as terças feiras Jennifer tem que pesar Lia para ver se ela não está emagrecendo novamente, Lia não quer engordar, ela quer ser a garota mais magra, quer comer o mínimo possível e queimar o máximo de calorias, mas ninguém pode entendê-la, ninguém consegue enxerga-la como ela se enxerga: uma baleia, gorda, horrível, criançona e perdida.
"Escute os sussurros que se enrolam na sua cabeça à noite, te chamando de feia e gorda e vaca e biscate e o pior de tudo: “uma decepção”. (...) Olhe no espelho e veja um fantasma. Escute cada batida do seu coração gritar que tudoabsolutamentetudo está errado com você. “Por quê?” é a pergunta errada. Pergunte “Por que não?"
A história é narrada do ponto de vista de Lia a partir da morte da Cassie, assim mergulhamos na atual vida da protagonista ao mesmo tempo em que, de acordo com suas alterações de humor, vamos desvendando seu passado por meio da menção de algumas de suas memórias, e são com essas lembranças que o mistério da morte da Cassie vai ganhando forma.
Delinquência, imprudência, drogas, descaso, solidão, anorexia, bulimia, autoflagelação, palavras que são fáceis de descrevermos separadamente, mas tente juntá-las em uma única palavra, tente imaginar tudo isso preso e enraizado em um coração angustiado e perdido – Que nome você daria a esse monstro? Nesse ponto o que realmente aconteceu com Cassie fica em segundo plano, pois o que importa é o motivo que levou a jovem a ter esse fim, desfecho que parece rondar também o futuro de Lia.
"Eu não deveria. Não posso. Não mereço. Sou uma gorda gigante e tenho nojo de mim mesma. Eu já ocupo espaço demais. Sou uma hipócrita feia e malvada. Sou um problema. Sou um lixo. Quero dormir e não acordar, mas não quero morrer. Quero comer como uma pessoa normal, mas preciso ver os meus ossos ou vou me odiar ainda mais.."
O livro é muito real, mesmo quando a Lia começa a ser assombrada pelo fantasma da Cassie, podemos notar o quanto isso é plausível na situação de descontrole e desespero que ela se encontra. A autora em sua narrativa mostra o quanto é fácil não enxergar o que não queremos ver realmente.
Eu quis ler esse livro assim que olhei para a capa (Linda), mais não tinha como imaginar o quanto ficaria comovida com o seu conteúdo, é uma leitura pesada, que nos faz lembra muitas vezes, de situações da nossa vida, onde fomos igualmente quebrados como a personagem principal.
Recomendo muito a leitura, o final é surpreendente e uma grande lição.
"Se eu chegasse a 32, iria querer 29. Se eu pesasse 4,5 quilos, não ficaria feliz até chegar aos 2,25. O único número que seria suficiente é 0. Zero quilos, zero vida, tamanho zero, zero duplo, zero e ponto. Zerado é sinônimo de estar pronto pra tudo. Agora eu entendo."
"Não existe cura mágica, nem como fazer tudo desaparecer para sempre. Existem apenas pequenos passos adiante; um dia mais fácil, uma risada inesperada, um espelho que não importa mais.